sexta-feira, 24 de setembro de 2010

da subtileza

acabo de ler um conto de fadas em que uma menina – tão completamente boazinha que os passarinhos lhe cantam à volta da cabeça, e tão linda que as estrelas do céu lhe brilham nos olhos, e tão prendada que o povo miserável agradece por passar fome, e tão humilde que fica trancada numa torre durante catorze anos… e é que tinham de ser catorze

acabo de ler um conto de fadas em que uma menina que se chama florina, anda à turra e à massa durante oitenta e oito páginas com uma outra menina, sua meia irmã – tão viciosamente má que o diabo tem medo de lhe atravessar o caminho, e tão feia que ninguém consegue olhar para ela, e tão malcheirosa que as plantas e os animais tombam à sua passagem, e tão traiçoeira que mente com quantos dentes tem (e tem poucos) de maneira a fazer trancar a irmã numa torre durante catorze anos… e é que tinham de ser catorze

acabo de ler um conto de fadas em que uma menina linda e boa que se chama florina, anda à turra e à massa durante oitenta e oito páginas com uma outra menina, sua meia irmã, feia e má que se chama trutona. e tudo porque ambas se perdem de amores por um charmoso cavaleiro chamado príncipe galante.

pergunto: o que (raio) é feito da subtileza e do carácter simbólico das antigas histórias para as crianças? hum? pois...

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este texto foi inspirado pela leitura de a ave azul da autoria da baronesa d’aulnoy publicado pela primeira vez na obra les contes des fées em mil seiscentos e noventa e seis, traduzido para português por josé teixeira rêgo para o livro contos de madame d’aulnoy da biblioteca infantil e popular editada pela renascença portuguesa em mil novecentos e catorze...
e é que tinham de ser catorze

r.
vinteequatro.setembro.doismiledez
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1 comentário:

  1. Estava a ver que tinha que esperar catorze dias para ler um novo post!
    é verdade: catorze não é o número da sorte do pirralhito?
    BPO,
    S

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