terça-feira, 23 de dezembro de 2008

19.XII.2008

senhora do tempo…
eu?
que nem senhora de mim
consigo ser
não!
mas podendo…
queria ser
senhora do vento
e então,
guardava em mim
cada poeira
cada folha queimada
seria senhora de tudo
eu,
que não sou
senhora de nada

b. pecorabuona
dezanove.dezembro.doismileoito

que faço quando tudo arde?

"que faço quando tudo arde?"
sá de miranda, 1481-1558

eu,
inquisidor,
única esperança
de remissão,
ardo nas chamas da salvação divina.

eu,
inquisidor,
convoco o homem
o herege pertinaz,

posto a tormento no suplício
vê nascer a verdadeira fé
em cima do potro ou nas cordas do polé

essa criança que ofende
o pai
reacende as brasas do amor celeste

eu,
inquisidor,
nada vejo:
nem sonhos,
nem palavras,
nem a carne rosácea que perante mim se disforma

vejo a alma
o pecado e o vício
é este o meu santo ofício.

eu,
inquisidor,
queimo as palavras, os sonhos,
a carne cinzenta que perante mim se reforma

e, quando tudo arde,
sou eu sublime
sou eu santidade.

b. pecorabuona
nove.dezembro.doismileoito

photo grafia XV

"coro de natal"
museu do brinquedo - seia

m. artmaker
novembro.doismileoito

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

palavras

para todos desejo palavras.

palavras como:
família, amigos,
lareira, sofá ou almofada,
e muita conversa fiada.
sorrisos, gargalhadas,
abraços despenteados,
e lágrimas pelo meio.
livros para ler,
filmes para ver,
saudades para matar,
novidades para contar.
bolo-rei e de chocolate,
queijo da serra,
amêndoas e nozes,
sonhos e filhoses.
carinho para dar,
copos para brindar…
e beber.
saúde!
paz, poesia,
presentes, partilha.
amor.
luz.

que cada palavra
seja uma bênção,
um sentimento.
tudo,
num momento
que dura sempre.


b. pecorabuona
vinteedois.dezembro.doismileoito

photo grafia XIV

"luz"
convento do desagravo - aguiar da beira
m. artmaker
novembro.doismileoito

"se ao menos a gente pudesse viver com as coisas mais simples em vez de recordar as complicadas"
antónio lobo antunes
in: crónica descosida porque me comovi

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

vontade de ti

“a medo vivo, a medo escrevo e falo”
António Ferreira, 1528-1569

E se é verdade o que dizem
sobre o amor não ser eterno.
É devolver o que se sente
ou se pensa que sente,
já sem certeza de nada,
e guardar apenas a memória
de um mundo enganado de
perfeições inventadas.

E aquele a quem se ama,
composição de conceitos
próprios, torna-se entidade livre
de à força ser imagem  e significado
de quem precisa de o amar.

E se é verdade que o amor não é eterno.
Pouco importa,
que hei-de manter as perfeições inventadas
por teimosia de vontade,
que não escondo nem calo.
Mas entretanto,
a medo escrevo, a medo vivo e falo.

b. pecorabuona
dezasseis.dezembro.doismileoito

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

primeiro soneto

1.
umas vezes sou vida insatisfeita,
sonho, desejo, livre fantasia
que numa confortável atrofia
assume esta vida como perfeita

outras vezes arrisco e vou a jogo
salto sem rede, vontade e acção
voo e caio, ergo-me ou não,
enfrento o mar, o vento e o fogo

há duas de mim em conflito aberto
por tudo aquilo que desejo e sinto
navegando longe ou escondidas perto,

nem lhes digo a verdade nem lhes minto,
atracção ao sonho e medo ao incerto
confundem alma, razão e instinto.


b. pecorabuona
cinco.outubro.doismileoito